Em uma publicação anterior do blog que se pode
ser acessada por aqui ( Estruturas de governo (parte1)) descrevi
várias estruturas de governo, coloquei seus pontos positivos, negativos e
análises. Devido à importância atual da estrutura de governo democrática
contemporânea resolvi fazer sua descrição em separado com uma configuração
diferente, nessa vou transcrever um texto sem dividir pontos altos, baixos e
análise e sim de forma mais minuciosa e contínua mesclando todos pois isso
embora não afete nem de forma positiva nem negativa o entendimento do que é
essa estrutura de poder, vai facilitar o entendimento da minha crítica em
relação a tal.
Lembrando que as publicações desse blog não buscam promover nada além da
reflexão e debate sobre política, por isso deixo novamente claro que esse
ambiente não é uma ferramenta para atentar contra o governo algum e nem ser
usada como fonte imparcial de informação.
Gostaria de pedir também a participação do leitor nos comentários
colaborando com a crítica ou discordando e apresentando sua própria, com
respeito e argumentos válidos, obrigado.
Para
esmiuçar o modelo democrático contemporâneo de forma a não permanecer dias
lendo um conteúdo, algo típico de uma leitura mais científica, é preciso fazer
tal em pontos realmente importantes que delimitam os princípios do sistema.
Então aqui não vou entrar tanto no mérito das suas possíveis configurações de
cargos e hierarquias como, parlamentarista, presidencialista,
semipresidencialista, ou então sobre o funcionamento de eleições diretas e por
colegiados. No fim isso pouco muda nas qualidades e problemas que uma autêntica
democracia contemporânea irá apresentar.
Com
isso em mente é preciso destacar os princípios do sistema, sem dúvida o mais
marcante consiste em ter uma constituição que define por sua vez o cidadão
como, todo aquele habitante maior de idade, nascido no país ou estrangeiro
naturalizado ali que esteja em pleno gozo de seus direitos políticos, direitos
esses que podem ser restringido por pendências jurídicas e não por etnia, sexo,
orientação sexual, pela fé ou ausência de uma e escolaridade. A constituição
precisa garantir também o respeito a direitos fundamentais que o governo
vigente precisa ter em relação as minorias que não tem poder quantitativo de
eleger representantes. Os outros princípios que precisam ser destacados e não necessariamente
precisam de uma constituição para fazer um governo se enquadrar na democracia
contemporânea é a, composição dos ocupantes dos cargos do governo formada por
representantes devidamente eleitos pelo povo e que essa eleição se faça pela
escolha da maioria dos cidadãos cujo qual a vontade e escolha é expressada por
meio do voto de igual valor para todos os cidadãos, ou no caso das eleições
colegiadas, representantes do povo da maior parte do território que corresponde
o pais e não a soma total da maioria do votos.
Tendo
os princípios realmente relevantes que delimitam uma democracia contemporânea
expostos vou tratar aqui das motivações que levaram esse modelo de estrutura de
governo se popularizar, principalmente no ocidente, a ser implantado no Brasil
e em muitos outros países do mundo e que leva ele a ser defendido por tantas
pessoas como o único caminho viável de se governar um estado de forma
eficiente.
Se a
perguntado para Ferdinand Lassalle, sociólogo prussiano e criador da
social-democracia, quem estaria certo, Trasímaco e companhia que defendiam a
legitimidade do poder pela força e que tal deve servir a quem o detém, ou
Rousseau que defende a legitimidade do poder pelo apoio do povo e beneficiando
o povo num harmônico e recíproco acordo social entre indivíduos civis do estado
e governo, Lassalle diria os dois lados! Isso porque para Lassalle o povo não
deve ser encarado como um só e sim vários grupos com distintos interesses e que
ao conseguir poder econômico ou militar passam a querer e impor seu espaço no
governo para que tal o sirva também, dessa maneira a única forma de manter o
povo governando e não pequenos círculos oligárquicos, seriam usar a máquina
pública e fortalecer o máximo de grupos que constituem o que se entende pelo
termo povo, para terem força e assim legitimarem um governo que os representa,
sem isso toda aventura democrática iria fracassar pois eventualmente alguém
usaria a força que detém centralizada por não residir essa no povo e tomaria
para si o poder e governaria. É possível observar como isso ocorreu na
revolução francesa em que a burguesia, grupo que foi principal força cujo qual
tornou possível retirar do poder monarca, nobres e clero e impor suas vontades,
fez isso porque era negado sua participação prática no governo sendo que
detinham poder econômico, com esse poder em mãos não puderam ser contidos e destruíram
a estrutura de governo vigente.
Com o movimento da social-democracia iniciada por Lassalle e continuada por muitos outros pensadores posteriormente, que pregava subir ao poder dentro das democracias modernas espalhadas em algumas nações da época e assim conferir poder aos grupos constituintes do que se entende como povo, a estrutura de governo democrática se fortaleceu e começou a ser replicada cada vez mais. Muitos grupos que não queriam ceder o poder que acumulavam para as massas resistiram e esse processo foi lento e continua até hoje nas democracias contemporâneas, devido a esse processo demasiadamente penoso e demorada que ocasionalmente apresentava retrocessos a serem recuperados, uma vertente socialista liderada pelos pensamentos do também sociólogo prussiano Karl Marx passou a pregar a tomada do poder como um todo e não somente o governo para as massas de uma só vez e por meios radicais, revolucionários e não democráticos, dessa forma o governo e todo o poder econômico e militar seriam tomados pelas armas e depois da rápida distribuição para as massas cujo qual implicaria numa mudança não somente administrativa mas também do sistema econômico, a democracia seria novamente restabelecida e garantida pelo poder contido então no povo. Essa vertente que fracassou é discutida numa publicação feita a parte aqui no blog que trata a respeito dos sistemas econômicos, acompanhe ela aqui (Sistemas Econômicos (parte1))
Social-democracia e socialismo precisam ser tidos como diferentes,
embora muitos não entendam isso por ignorância ou preconceito, até mesmo seus
seguidores não entendem muitas vezes a diferença e acabam por participar em
simultâneo de ações dos diferentes movimentos, mesmo com o compartilhamento
ocasional de militância e defensores intelectuais as vertentes proposta tem
diferenças abissais e que jamais podem ser tidas como um único movimento.
Explicado isso volto a focar no movimento que te fato fortaleceu o crescimento
da estrutura de governo democrática mundo a fora, a social-democracia.
O movimento da social-democracia está normalmente associado a esquerda,
isso porque busca fortalecer grupos pertencentes a grande massa populacional
chamada pelo termo "povo", e naturalmente buscando fortalecer
primeiramente os grupos mais fracos que seriam os historicamente perseguidos,
homossexuais, ateus e agnósticos, praticamente de pequenas religiões,
descendentes de escravos e emigrantes, etc... Como resposta os indivíduos e
elites que não querem ceder seu poder e influência acabam por se aglutinar á os
grupos mais conservadores que formam a direita. Ideias social-democratas se
misturam a luta contra valores conservadores e os que defendem o acúmulo de
poder na luta pelos valores conservadores, porém isso não é regra alguma,
apenas um arranjo conveniente ou mera coincidência pois ser conservador no que
diz respeito a cultura e demais valores não impede ninguém de apoiar a social-democracia,
apenas faz com que prefira que os grupos pertencentes ao povo que são
conservadores sejam fortalecidos, da mesma maneira que nada impede que um
social-democrata seja conservador, o que de fato acontece em alguns países que
o movimento social-democrata acaba por pertencer a direita como por exemplo
recente, na Ucrânia onde a frente que impulsiona o progressismo, fortalecimento
da democracia e inclusive o alinhamento com a União Europeia que é dominada
atualmente por vertentes ligadas ao movimento social-democrata são os
nacionalistas e de maioria conservadora para com os costumes ucranianos ou
seja, a direita do país, já a frente que é minoritária e tem conexão étnica com
a Rússia ao leste do país luta para enfraquecer o poder das massas e forçar o pais
a se alinhar novamente ao governo russo por meio das elites nacionais que são
influenciadas por ele, que por sua vez não é adepto do progressismo, essa
situação fora do comum alinhamento da social-democracia com a esquerda se deve
ao fator de influência externa tanto que já dentro da própria Rússia ocorre
esse alinhamento típico normalmente, no entanto é importante destacar como na
Ucrânia isso ocorre e não existe sentimento algum das partes de se estar
fazendo algo contraditório ou incoerente, todos esses posicionamentos dos
grupos que formam o povo local ocorreram com naturalidade conforme os
acontecimentos requisitavam, sendo então um equívoco afirmar que a
social-democracia pertence necessariamente a esquerda ou direita.
A
democracia contemporânea amadureceu com seus princípios ficando bem estabelecidos
e se espalhou e fortaleceu devido a movimentos diversos principalmente da
social-democracia que se espalharam multinacionalmente e hoje tem a dominância
que tem. Mas tudo são rosas nesse modelo de governo de um estado? Para
responder essa pergunta não podemos ficar vendo somente os triunfos conquistados
por ele, hoje a democracia contemporânea sofre de problemas herdados da
democracia clássica e moderna, burocracia é uma quase sempre constante e isso
dificulta muito quando por algum motivo o governo precise de dinâmica para
lidar com uma mudança no cenário global ou até mesmo dentro da diplomacia bilateral
de um pais, epidemias, crises financeiras e guerras tem respostas tardias e que
causam transtornos maiores do que seriam necessários. Políticas de curta
duração é outra grande e incômoda herança, afinal se um governo cujo a maioria
dos representantes eleitos cunha um caminho para o país e se vê obrigado a
mudar tudo repentinamente devido a em uma nova eleição o povo tenha decidido
eleger uma nova maioria dos representantes que por sua vez agora discordam
daquele caminho traçado, isso pode ser observado nos exemplos recentes, nos
Estados Unidos da América que ao fim do mandato do governo democrata de Barack
Obama foi sucedido pelo republicano Donald Trump viu seus esforços financeiros
e diplomáticos serem descartados com o abandono do acordo nuclear do Irã, do
acordo climático de Paris, do conflito sírio e de acordos comerciários
diversos, na Argentina o fracasso na tentativa de reeleição do governo de
Maurício Macri que perdeu para movimento representado pelo candidato Alberto
Fernandes cujo qual destruiu os projetos de abertura comercial e reestruturação
da dívida daquele país através de gastos públicos austeros, não querendo entrar
no mérito de quem estava certo nos casos usados de exemplo pois mudanças da
mesma forma que vem para pior podem vir para melhor, mas essas mudanças por si
só custam aos cofres públicos, esforços humanos diplomáticos e publicitários e
também sendo muito importante destacar, custam tempo, para países que foram
obrigados a mudar suas estratégias de condução do governo devido a mudanças
políticas ocorre investimentos de tempo, financeiros e humanos que ficam sem
trazer frutos e que poderiam ter sido aplicados em outras frentes mas foram
perdidos devido a imprevistos eleitorais, a insegurança que isso acarreta faz
com que investidores e outros países tenham mais resistência em fazer parceiras
temendo ser pegos por esses imprevistos e ver seus recursos desperdiçados junto
ao fim daquelas politicas defendidas por representantes não reeleitos.
Por fim
o mais importante problema da democracia contemporânea e o que me faz a
condenar, concluindo como não sendo o modelo ideal de estrutura de
governo, é provinda também de uma
qualidade sua, se por um lado os valores democráticos se tornaram fortemente
defendidos nas sociedades sob seus governos pertencentes com um marketing que
prega intolerância a qualquer visão contrária e que garante estabilidade oriunda
das massas empoderadas, por outro lado essa força do sistema nada mais garante
que o próprio sistema, pois embora o povo tenha força para exigir sua
participação no governo isso não garante que seus representantes vão lhe servir
como desejam ou como imaginam, a social-democracia por exemplo da poder as
massas para sustentarem a democracia mas esse poder não necessariamente vem como
tais massas almejam, isso ocorre porque a demandas que não podem ser atendidas
por diversos motivos como por exemplo, imagine um grupo de produtores de alguma
cultura agrícola que recebem credito subsidiado do governo, esse subsídio lhes dá
acesso a capital e a prosperar suas propriedades, esse grupo assim foi
empoderado pelo seus representantes e vão sustentar a defesa da sua continua
participação na escolha de representantes, vendo uma oportunidade de conseguir
lucrar vendendo parte de suas colheitas para uma outra nação demandam um acordo
comercial entre os países de seus representantes que não podem fazer tal por
razões oriundas daquela outra nação e não de suas vontades, muitas vezes
explicar essa situação não é possível pela complexidade do assunto e pela
ignorância em relação a diplomacia daquele grupo, sendo assim esses
representantes não atendem os anseios a eles confiados por aqueles que eles
empoderaram. Para sufocar as inúmeras situações como a citada de exemplo que
encontram é que é feito esse marketing do sistema como sendo o único caminho
aceitável para a administração pública, o povo dessa maneira passa a não usar
seu poder para causar uma ruptura da sociedade frustrado com seus interesses
não atendidos pois não enxergam como uma revolta poderia ajudar já que aquele
já é a melhor opção para tentar continuar requisitando suas vontades, esse
marketing vem nas aulas de escolas e universidades, vem por meio das mídias que
elevam os famosos defensores do sistema como exemplos a serem seguidos, e de
períodos de eleição que candidatos martelam incessantemente frases de ordem que
mostram os perigos de não seguir a democracia. Desse fenômeno surgiu o
populismo.
O
problema do populismo surgiu na democracia moderna mas se intensificou na
democracia contemporânea devido a ideia de defender o modelo democrático a todo
custo mais amadurecida culturalmente na nação que tem a democracia
contemporânea no poder, dessa maneira candidatos podem usar toda aquela
estrutura de marketing praticamente institucionalizada para uso próprio e não
do sistema para o sistema, e apontar justamente as demandas não atendidas das
massas e assim fazê-los acreditar que os seus atuais representantes são na
verdade inimigos do sistema democrático por razões diversas apontadas pelo
próprio candidato populista, ele então se coloca como sendo capaz de tudo poder
fazer pois a democracia tudo pode fazer, as pessoas que já estão doutrinadas a
acreditar nessa força da democracia veem coerência nesse discurso e passam a
apoiar esse que agora sim parece que vai atender de fato 100% do que seus
eleitores demandam. Populistas que sobem ao poder realizam diversas façanhas
prejudiciais ao regime democrático como de fato realizar ações demandadas pelos
seus eleitores mesmo que essas seja causadoras de problemas não compreendidos
por aqueles que demandam, e quando não realizam essas ações por não poder
realmente, marginalizam rivais e a imprensa culpando tais por estarem o
impedindo e atentando contra a democracia que agora ele representa e não mais
sendo meramente um representante temporal.
Á
governos populistas de ideologias de direita e esquerda sem distinção e eles
são fáceis de serem identificados pela sua manipulação do marketing da
democracia para sua retórica e assim tentar controlar as massas e as induzir a
seu favor eleitoral e de ações de governo, mas não é tão fácil identificar suas
motivações. Sócrates, Platão, Aristóteles e companhia já criticavam o sistema
democrático clássico, pôr o poder dele ser passivo de indução ao erro pela
falta de competência e retórica, críticas essas que ainda se fazem atuais,
devido ao fato da ignorância das pessoas as tornar suscetíveis à retórica agora
assim como antes ou seja, o temido problema do poder induzido ao erro se
modificou pois o sistema não é mais o mesmo mas se manteve agora na forma do
populismo, se a retórica populista obter sucesso e "enganar" (já explico
sobre a possibilidade do uso de aspas) o povo, vai se usar o poder que ele detém
ao erro, e o pior (explicando as aspas) é que isso pode acontecer
intencionalmente ou até mesmo acidentalmente pois os populistas podem não
surgir necessariamente para "trair" as massas apenas pensando em se
eleger mas por fazer parte delas, afinal o falho nível de instrução do muitos grupos
que constituem o povo empoderado impede de enxergarem decisões para bem de si
mesmas em assuntos complexos, e por isso algo simples e errado pode parecer
coerente pela percepção pouco instruída de massas ainda ignorantes e ludibriadas
com a possibilidade de escolhas e delas sair lideres, retóricas erradas e quem
as propõem podem então atuar conduzindo o poder ao erro sem saber que o fazem.
Explicando resumidamente, o político populista pode ser alguém agindo de má fé
ou apenas um dos indivíduos sem instrução necessária para governar de dentro do
povo que acabou por acender como candidato populista acreditando assim como
seus eleitores no seu próprio discurso e retórica equivocada.
O
exemplo mais notável do que o problema do populismo pode chegar a fazer em um
pais é escancarado na Venezuela, embora hoje o país não possa ter tido mais
como uma democracia contemporânea ele teve a raiz dos problemas que afligem
aquele povo enquanto ainda era uma, sendo rico devido a suas reservas de
petróleo o país se tornou uma das mais poderosas democracia do mundo do ponto
de vista financeiro e acabou por deixar populistas de esquerda chegarem ao
poder, uma vez lá programas de distribuição de renda e subsídios de todos os
serviços públicos foram criados elevando os gastos do governo a níveis
inimagináveis, com algumas crises que o petróleo veio a passar e sendo ele a
principal fonte de renda do país era natural uma conscientização do governo para
mudar esse rumo de gastos tão massivos, no entanto ele não o fez, seria então
natural o povo trocar os seus representantes mudando essa inércia do governo,
no entanto ele também não o fez, isso se deve à o discurso totalmente
irracional do governo em achar culpados dentro e fora do país pela falta de
dinheiro quando tal era devido aos gastos sem arrecadação que ele mesmo
sustentava, o povo ignorante foi convencido dessa retórica e quando se deu
conta da real situação se encontrava em um país absurdamente endividado, com
toda suas infraestruturas sucateadas e com um governo a tanto tempo pregando
que os outros são os culpados dos problemas que não aceitava mais nem mesmo as
eleições lhe dizendo o contrário. Esse exemplo venezuelano pode parecer extremo
mas serve para mostrar o tão grande podem ser as consequências do populismo,
demais problemas em menores proporções podem ser notados em quase todas as
nações democráticas atuais oriundos de atividades populistas que atualmente os
governam ou deixados lá em algum mandado anterior de representantes populistas
que por ali passaram.
Com
essas explicações fica fácil ver aqui nessa publicação, como funciona a
democracia contemporânea e como ela conseguiu chegar a ter a sua atual força e
como essa mesma força pode ser usada para um fim trágico.