Se parece em um primeiro momento coerente do
ponto de vista ideológico quem circunda o spectro mais à esquerda, aquele que
concorda com muitas das ideias dos sociólogos prussianos Ferdinand Lassalle ou
Karl Marx, apoiar e torcer pela China em todo seu sucesso econômico e militar,
saiba que não é. Vou argumentar nessa publicação expondo o porquê olhando mais
a fundo e de forma prática essa noção de coerência é equivocada.
China,
país que hoje disputa e lidera para se tornar potência dominadora na sua região
e aspira competir com os Estados Unidos da América pelo posto de potência
dominadora global, fruto de um período que experimentou o comunismo. Olhando
para esse país que antes desse período era sem prosperidade e desenvolvimento e
que após passar por ele mesmo tendo retornado ao capitalismo ao invés de ter
fincado os pés lá ou atingido o socialismo, inegavelmente obteve seu sucesso e
características atuais daquele período e mesmo estando no capitalismo esse se
faz de uma forma bem menos liberal que o pregado como correto para obter o
sucesso pelos estudiosos e defensores do sistema capitalista tão odiados nos
círculos de pensadores que se denominam socialistas ou social-democratas. Por
que então não seria essa uma ilha ou oásis de sucesso para a esquerda usar de
exemplo em meio a tantos fracassos ao longo da história?
Primeiramente precisamos entender que o verdadeiro sucesso ou melhor
dizendo, que o verdadeiro sucesso cujo qual as ideias daqueles sociólogos, mais
precisamente Lassalle, ajudaram a fazer acontecer, pois o capitalismo fez
presença essencial, foi nos países europeus que empregam de forma maciça as
políticas de bem estar social tão buscadas pelos sociais-democratas. A China
não é um empregador dessas políticas de nenhuma forma plausível e poderia ser
um exemplo de certo acerto da parte de Marx mas também não é devido a não ter
alcançado nenhum de seus fins, apenas passou por um período o que ele pregou
como sendo uma espécie de meio de caminho.
Em
relação a seu sucesso provir de um período inspirado por ideias marxistas mesmo
elas depois tendo sido abandonadas, e que poderia servir para tirar algum
acerto no que ele defendia, isso não ocorre, até teria sentido entender dessa
forma se o resultado final não fosse algo que embora não seja o ideal para os
capitalistas é também uma completa oposição a forma que o proletário deve ser
tratado segundo Marx. Hoje o proletário chinês se encontra numa situação de
exploração e falta de poder perante o estado empreendedor chinês pior que para
a burguesia no período em esse sociólogo decidiu passar a observar e tirar suas
conclusões em ralação a sociedade e o seu sistema produtivo.
O
sucesso chinês provem na verdade do governo ter transformado o pais inteiro em
uma empresa cujo qual ele deve ser encarado como o dono privado que busca
maximizar seu lucro como qualquer outro capitalista dono de uma empresa, a
diferença fica apenas pelo fato que fora a grande e ilimitada empresa chamada
China, dentro de países comuns que não trabalham como uma empresa e sim como um
estado com empresas, os seus empresários encontram-se limitados por leis. As leis da China não vem
para limitar seu empreendimento e sim ajudá-lo a ser mais implacável em reduzir
custos a ponto de oferecer produtos e serviços vencedores de qualquer
competição no mercado global, são leis que se comparam a regras dentro de uma
empresa para justamente fazer ela funcionar melhor. Por isso seus trabalhadores
são tão explorados, não a liberdade de expressão, o fechamento ao repasse de
informações para toda instituição externa, a limitação e vigilância da
informação que entra, o acesso do governo sobre todas as informações das
instituições governamentais ou privadas internas que mais parecem simples
setores para melhor organização de uma mesma instituição, a indiferença ao meio
ambiente e a diplomacia. É tudo típico da organização interna de uma grande
empresa que não sofre fiscalização de nenhuma autoridade, mas estamos falando
aqui de um país.
Para
concretar ainda mais essa ideia de equívoco por parte daqueles que vislumbram
na China um exemplo a se citar em debates contra defensores capitalistas, é
preciso também expor como a força deflacionária que a alta competitividade da
China gera no mercado global e leva que bandeiras da esquerda que antes eram
perfeitamente praticáveis nas cadeias produtivas mesmo dentro do capitalismo
agora se tornem insustentáveis para uma economia saudável e em desenvolvimento.
Países
europeus que contam com a vasta implementação das políticas de bem estar social
perdem muitas linhas de produção de produtos industrializados para a China já
que essa oferece para as empresas mesmo já incluindo o custo de transporte uma
produção terceirizada mais vantajosa livre das leis que protegem os
funcionários europeus e encarece o produto final, quando não ocorre a
terceirização da produção na China por uma empresa devido a aversão do seu
proprietário por motivos diversos, a empresa vê seu nicho de mercado ser
invadido por produtos similares chineses mais competitivos que pôr fim a levam
a falência ou compra pela própria China para uso em marketing do nome de maior
tradição, restando uma produção local relacionada a softwares e alguma linhas
que mal servem para unir componentes provindos da China e que mesmo assim só
existem devido a proteção alfandegária e subsídios, empregos provindos de
atividades primárias, serviços, turismo e construção ficam seguros mas eles
somados a essas poucas outras opções de produção industrial são insuficientes
para aquecer a economia e a levam a deflação, deflação que resumidamente é a
queda dos preços dos produtos e serviços por falta de consumo ou poder
aquisitivo, que gera falta de interesse em investir e induz quem detém a apenas
guardar o capital, que por sua vez causa mais deflação em um ciclo patológico extremamente
prejudicial.
Mesmo
na maior parte das américas, Oceania e Japão que não se utilizam de uma
abordagem que encarece tanto os meios de produção como a política de bem estar
social europeu é facilmente perceptível a fuga de linhas de produção para o
gigante asiático chinês causando desemprego, esfriando os mercados internos e
consequentemente a deflação.
Uma vez
que esses postos de trabalho que deveriam estar espalhados pelo mundo, mais
protegidos e fiscalizados, garantido aos proletários de tais países uma
exploração mais ética são eliminados em detrimentos dos super explorados
empregos do proletário chinês, essa ideia de proteção se torna negativa por
impedir a competitividade, e indo então na contra-mão da ideologia que
justamente prega o aumento da proteção do proletário como ideal, a esquerda. Do
ponto de vista capitalista isso nada tem de errado, ainda não ocorre um
monopólio total e quem produz mais barato e melhor leva a preferência de quem
consome, mas sem dúvida é muito ruim para o discurso de socialistas e
sociais-democratas que mesmo assim ainda estão na sua maioria em uma espécie de
torcida para o sucesso chinês e acreditando que esse é algo que veio para agregar
força aos argumentos que usam para defender suas bandeiras quando na verdade os
destrói!