10/21/2020 12:02:00 PM

 


  Quem acompanha política e economia sabe bem do grande desafio de qualquer governo em manter sob controle a inflação enquanto tenta lidar com outras questões econômicas e sociais, isso se deve pelas eventuais contradições e conflitos entre o que se entende que deve ser feito em determinada resolução de um problema com o que deve ser feito para estabilizar a depreciação ou valorização monetária.

  Deixando mais fácil de se entender podemos citar alguns exemplos, em um governo que está se endividando devido a consecutivos rombos nas contas públicas em função de uma arrecadação inferior aos gastos públicos, nesse cenário desconsiderando a questão da inflação esse governo teria duas opções, a primeira; ou ele corta gastos de forma austera para a arrecadação conseguir suprir os gastos que restarem ou, a segunda; ele cria um pacote de estímulos por meio de investimentos e queda de juros, atrelado a uma tributação um pouco mais elevada que embora aumentaria fortemente a dívida pública num primeiro momento iria aquecer a economia e consequentemente turbinar a arrecadação no longo prazo, além de que com os juros estando baixos fora o objetivo principal que é fazer fluir o crédito privado, faz a dívida pública também gerar menos prejuízo com a sua rolagem de pagamentos de juros para os detentores de seus títulos, permitindo equilibrar as contas. Ainda desconsiderando a questão da inflação podemos concluir que a melhor decisão entre essas duas medidas depende da situação social e especulativa da sociedade, num cenário que o mercado já está aquecido e pulsante e que a população ou pelo menos a maior parte dela não se encontra em uma situação de vulnerabilidade social o governo deveria optar pela primeira alternativa e cortar gastos, tirando investimentos em obras públicas, assistencialismo, contratações e ajustes eloquentes no funcionalismo público etc, a segunda opção até pode ser funcional mas pode acarretar bolhas especulativas diante da valorização desproporcional de algum nicho de mercado e a tributação tiraria a competitividade internacional e exigia um continuo e não sustentável aumento de consumo interno para manter o crescimento. Já diante de um cenário de desemprego forte, desabastecimento de produtos essenciais, colapso dos sistemas de saúde e abastecimento de água e energia elétrica aí sim, naturalmente a segunda opção se torna a melhor. Mas e se introduzirmos agora a relevância da questão de controlar a inflação, bom se existir deflação que nada mais é que a inflação negativa, onde a melhor opção seria a primeira ou seja, a economia está indo relativamente bem e o povo está com um modo de vida bem estruturado, ocorre uma contradição pois o corte de gastos públicos traria ainda mais deflação por desvalorizar nichos de mercado diretamente afetados por esses recursos, a desvalorização de determinados investimentos faz que quem detém o capital fique mais receoso de colocar ele em circulação por meio de novos e diferentes investimentos e prefira optar por ficar na segurança que a moeda parada lhe trás e assim a valorizando, criando um potencial desencadeamento de crise econômica ao invés de apenas equilibrar a balança de gastos e arrecadação, na atualidade isso ocorre em muitos países europeus como, Espanha, Grécia, Bulgária etc, por outro lado se ocorre inflação galopante em um país onde o segunda opção é a melhor não só existe um potencial mas a certeza que se for implementado a injeção de investimentos e cortes de juros a desvalorização da moeda ou seja, a inflação irá aumentar muito uma vez que todos querem se desfazer de suas reservas de moeda em busca de investir e usufruir dos retornos da economia aquecida, gerando assim um movimento de, o que se compra hoje com um valor não vai conseguir mais comprar amanhã, quase imparável, exemplo disso está ocorrendo na Turquia, e mesmo quando pelo menos no que diz respeito aos juros, esses não caem e com isso acabam por se tornar uma alternativa de retorno a alguns investidores privados para não colocarem todo seu capital em circulação, se mostra ineficiente ao impedir a força inflacionária se houver investimento públicos seja de qual for a natureza no mercado, e o pior com os juros mantidos altos é eliminado também qualquer vantagem que se conseguiria anteriormente para equilibrar as contas, drama que Argentina e Venezuela sofrem amargamente na atualidade.

  Como pode ser percebido o controle da inflação por ir na contra-mão, impede em muitos se não na maioria dos casos a aplicação das medidas de ajuste fiscal mais coerentes com a realidade que se faz presente nos países, casos que demandam cortes para equilibrar as contas precisam de manutenção de gastos para combate a deflação e casos que demandam investimentos para atender a necessidades em muito justificáveis e aumentar a arrecadação acabam precisando de cortes austeros muitas vezes desumanos para com a população carente para impedir a inflação descontrolada. Mesmo quando o ajuste fiscal não se faz necessário como nos exemplos citados até aqui, muitas outras medidas que visam alcançar interesses nacionais dos mais variados precisam ser adiados, repensados e até mesmo cancelados pela necessidade de não desestabilizar a inflação na economia.

  Uma oportunidade de se desfazer desse fardo que é a continua manutenção do valor monetário que muitas vezes a mera sinalização equivocada por parte do governo e demais autoridades traz grandes consequências cambiais, deveria ser agarrada com todas as forças e geraria um grande potencial de inovação da administração pública devido ao desengessamento de planos ambiciosos e políticas econômicas mais coerentes com a real necessidade da sociedade.

  Seria possível essa árdua função ser transferida? Pode ser que sim, através da tecnologia do blockchain e o que orbita seu universo. Para explicar isso preciso destacar que não me refiro ao Bitcoin ou qualquer outra criptomoeda de destaque atual pois essas não contem lastro algum, são descentralizadas e mesmo quando detém algum lastro ou centralização tem força menor que a força especulativa que move o valor monetário que representam como verdadeiras montanhas russas nos gráficos das exchanges mundo a fora, fazendo essas "moedas" que mais parecem apenas ser ativos especulativos ou até mesmo não exagerando chamar de apostas de cassino, serem buscadas de forma seria apenas em países que o risco e a alta volatilidade que as criptomoedas detém garantem mais segurança que as moedas tradicionais locais que devido a inflação estratosférica garante desvalorização. Afinal, melhor arriscar e ter chance de não perder o valor das suas reservas do que ter a garantia que irá perder!

  Muitos que estiverem lendo o conteúdo até aqui e já terem tido algum contato com esse tema vão ter uma reação de estranheza pois, outros influencers defensores dessa tecnologia argumentam com majoritária concordância que quanto mais descentralizada é a criptomoeda melhor ela é. Bom, eu não concordo e vejo como prova dessa visão estar equivocada, como essas criptomoedas não tem no seu principal emprego a função de moeda corrente para facilitar trocas e compras de bens e serviços, mas apenas na busca por lucro em operações especulativas e em reserva de valor em países devastados pela inflação descontrolada. Tido isso posso explicar e defender como essa tecnologia usada da forma idealizada por mim poderia ser a responsável por terceirizar o trabalho do governo de controlar a inflação.

  Primeiramente vamos aos pontos que uma criptomoeda baseada em uma rede blockchain tem a ganhar sendo estruturada de for institucional em um país, a blockchain tem a inovação de usar os próprios usuários e mineradores para sustentar a rede descentralizada em funcionamento mas ela é lenta para validar as transações e cobra taxas de uso de rede que quando o valor da criptomoeda esta alta inviabiliza seu uso no varejo, com o uso em conjunto de servidores centralizados dedicados a essa finalidade traria um custo, velocidade e estabilidade muito mais viável a essa rede e a sua descentralização se tornaria algo complementar para impedir falhas, o emprego institucional traria também uma força de padronização e aceitação ao mercado para com essa tecnologia e possibilitaria os recursos necessários para garantir por fora um controle sobre as distorções cambiais iniciais em relação as moedas tradicionais no mercado. Agora, os pontos e vantagens que um governo tem a ganhar em usar essa tecnologia, se utilizando da grande independência que um código contendo todos os algoritmos de funcionamento que ao ser finalizado se torna inalterado o governo entregaria ao mercado uma segurança que faz parecer os atualmente arrojados projetos de independência via PECs(Propostas de Emendas à Constituição) dos bancos centrais ao redor do mundo absolutamente obsoletos, já que qualquer influência não só política mas também pessoal dos ocupantes das diretorias dos bancos centrais estaria impossibilitada, além de total independência o que iria vir nesses algoritmos estabelecidos inicialmente também abre um leque enorme de vantagens como atrelar o valor da moeda a uma média ou outro cálculo baseado em uma lista e inclusive padrões eletivos para substituição automática de partes dessa lista, de valores de elementos distintos como, preços dos commodities, cotações de moedas tradicionais e índices nacionais de consumo, desenvolvimento, superávits, ocupação populacional, etc. Podendo assim como os bancos centrais tentam muitas vezes fazer com as taxas de juros e compulsório ineficientemente devido ao retardo das ações diante das necessidades, ter ajustes, e graças aos algoritmos todos automáticos, rápidos, técnicos e ai sim eficientes claro, ocorrendo a manutenção de valor para caso ocorra por exemplo, baseado nos dados da própria rede blockchain a detecção de depreciação ou valorização indesejada da criptomoeda, ajustes esses como, uma destruição ou emissão de moedas em porcentagens equivalentes a quantidades de quem as detém dentro de suas reservas, isso em um primeiro momento causaria bastante eufórica ou ira aos leigos que presenciariam seu dinheiro se multiplicando ou se degradando dentro das suas contas ou carteiras virtuais, mas rapidamente após o entendimento do ajuste tal seria uma âncora de estabilidade que garantiria o valor atrelado ao que foi estabelecido mantido pois as correções seriam pequenas e poucos comuns, pequenas porque ocorreriam com rapidez e exatidão de acordo como se fazem necessárias e sendo assim discretas porém suficientes, e poucos comuns devido a que a própria noção que isso ocorre em si já é um tipo de lastro.

  Com um cenário sem a preocupação com atuar pensando na inflação os bancos centrais poderiam atuar com suas medias focando em outras frentes, mais voltadas para fiscalização e para fomentar a economia em setores específicos que se fazem necessárias e em conjuntos a projetos do governo coerentes e menos engessados.

  A implementação de um projeto desse deveria ser feito com muita seriedade e expertise visando jamais precisar tentar refundar a moeda com outro código e diferentes algoritmos afinal a solidez da vantagem residiria justamente na inexistência do dever, mas também no direto por parte do governo e seja qual for a autoridade, de influenciar novamente nessa questão. Mesmo com essa grande responsabilidade inicial, e com todas as dores de cabeça que sua instalação e substituição da moeda tradicional em circulação, qualquer pais deveria considerar essa proposta, a inflação já destruiu muitas economias ao longo da história e mesmo as que não foram destruídas por ela ainda estão a sombra desse risco e carregando cicatrizes terríveis como gerações inteiras de seu povo que nasceram, cresceram e morreram vivendo em crises e sem possibilidade de brilhar enquanto seus países se debatiam para afastar o problema, isso só até a próxima rodada de crise voltar.

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